O brasileiro precisa ser estudado.
Parece que o brasileiro inventou uma nova funcionalidade para o Pix, novo sistema de pagamentos do Banco Central. Além das transferências em dinheiro, a plataforma também está sendo usada para o envio de mensagens pessoais.
Esse tipo de uso da plataforma começou a viralizar recentemente, com o caso de uma mulher que foi bloqueada pelo ex-namorado em todas as redes sociais e apelou para o Pix para abrir um canal de comunicação, enviando sucessivas transferências de R$ 0,01 com mensagens pedindo desculpas por uma traição.
Na tentativa de ajudar, um primo do homem postou o acontecido, perguntando se alguém sabia como bloquear as transferências indesejadas.
Em busca da resposta, o Baguete procurou o Banco Central, onde mais se entende do assunto, que respondeu de forma categórica: “o meio de pagamento não funciona como uma rede social. Portanto, não é possível bloquear um usuário detentor de conta”, afirmou a instituição.
Para Waldo Gomes, especialista em segurança da NetSafe Corp, a alternativa mais viável seria a pessoa incomodada descadastrar a chave utilizada no Pix, como o CPF, por exemplo, e cadastrar uma outra sequência de caracteres, fora do alcance de terceiros.
Foi isso que o personagem da história fez, conforme disse Matheus Siqueira, autor da postagem, à Folha de São Paulo. No caso dele, a chave cadastrada era o número do celular.
O método, no entanto, não é 100% eficaz, já que é possível fazer um tipo de transferência sem a chave, apenas utilizando os dados da conta bancária.
Gomes lembra que a nova plataforma do BC permite uma quantidade maior de caracteres do que as transferências por DOC ou TED — são 140, limite de uma mensagem de SMS — e, portanto, uma alternativa futura poderia ser a redução do número de caracteres, deixando espaço apenas para identificar a transação.
“Eu imagino que, se essa funcionalidade for utilizada de uma forma errada, muito provavelmente eles façam uma operação ao longo da rota e limitem a quantidade de caracteres. Realmente esse não é o intuito da ferramenta”, acredita Gomes.
Sobre permitir que os bancos desenvolvam o bloqueio no futuro, ou mesmo a possibilidade de diminuir o número de caracteres, o BC se limitou a dizer que “não há nada no momento sobre estes dois assuntos”.
Tão cedo, os bancos não devem colocar em prática algo do gênero, já que, via de regra, devem seguir o escopo definido pelo Banco Central e não têm autonomia para desenvolver o bloqueio ou novas funcionalidades para o Pix.
“Temos ali todo um roadmap de funcionalidades que foram pré-definidas, como exclusão de chaves, transferências, pagamentos e recebimento via QR code. Até os campos, informações e mensagens têm que ser como o Banco Central definiu e esse tipo de bloqueio não foi previsto inicialmente”, explica Alexandre Rezende, gerente de desenvolvimento de produto da DB1.
A empresa paranaense de desenvolvimento de software trabalha em projetos relacionados com o Pix, cujo sistema de transferência é oferecido hoje por mais de 700 instituições diferentes no segmento financeiro, indo desde os grandes bancos até players regionais e fintechs.
Rezende acredita que, para o mundo do software, tudo é possível e não se trata de algo complexo de se fazer, mas as empresas somente vão adotar esse tipo de bloqueio se o BC exigir.